domingo, dezembro 09, 2007

Sobre a fragilidade


Ele não conseguia dizer a ela o que sentia, como se a relação dos dois houvesse sido acometida de um excesso de racionalidade. Tudo era pensado demais, e pouco se via dos dois que não fossem conversas de pessoas que se gostam, apenas. Está certo que, para ser coerente com o já dito, nenhum dos dois tinha mesmo certeza do que um cultivava genuinamente pelo outro. Era tudo suposição. Era tudo jogo de pensamentos trocados, numa espécie de transmissão de aparência. Num dia, ele superinterpretava o que ela dizia; ela, por outro lado, menosprezava algum detalhe que na mente dele era o ponto mais importante. No dia seguinte, os papéis se invertiam. E assim continuavam na construção de uma relação entre pessoas que se gostam, mas que param por ai, por culpa da completa inércia que os dominava. Ambos não eram assim com outras pessoas; até que eram acostumados a explicitar mais cristalinamente suas emoções. Mas quando era para um a demonstração do outro, tudo se revestia de uma dose cavalar de complicação. Havia entre os dois termos tacitamente proibidos. A cada momento acresciam limites e redomas de proteção, com os quais um não pretendia confundir o outro, mas se preservar dele. Um tinha medo de tentar; o outro, medo de conseguir. Ambos eram desacelerados pela cautela exarcebada, como numa espécie de medo de machucar. Talvez um, pelo trauma da rejeição; o outro, pelo trauma da entrega. Na verdade, ambos são dois apaixonados que amam, mas não sabem o quê. Ou simplesmente não descobriram que amam errado coisas erradas. Mas vivem procurando no outro desculpas e tateamentos para sanar dúvidas, evocando cada vez mais certezas de que aquelas ainda existem. E sempre irão assistir a uma história indefinida, enquanto o implícito, ao invés de um toque de sugestão, der o compasso desse história. No final, quando tudo o que antes era névoa for enfim revelado, talvez ele não veja nela a perfeição amalucada que tanto admira. E talvez ela encontre nele o porto seguro que tanto esperava. Ou o contrário.Talvez ele perceba que esteve certo o tempo todo quanto a seu alvo de admiração. E ela descubra que ele é realmente um querido amigo como imaginara. Muitos "talvez" nisso tudo. E esse, certamente, é o principal problema entre os dois. Quando ambos se permitirem dizer, sem rodeios, suas verdades para o outro, o saldo final seja uma relação, se não mais feliz, ao menos mais corajosa. E, quiçá, mais libertadora. Menos frágil, pois.

Um comentário:

Anônimo disse...

Juro que vou ler denovo
:O