domingo, janeiro 15, 2006

sonho colorido


Sonho colorido é reflexo, espelho e imagem. É um “deja vu” do futuro. É sentir o que se sente, só que noutro corpo. É pensar o que se pensa, só que noutra mente. É dividir idéia parecida e concordar quase sempre. É experimentar conversar consigo mesmo. É ver seus próprios erros na atitude de outra pessoa. É se identificar.
Sonho colorido é ser gêmeo sem cordão umbilical. É perceber-se em outro jeito de falar. É reconhecer-se em outro jeito de andar.É verificar suas opiniões saindo de outra boca e seus carinhos feitos por outras mãos. É passar a acreditar em coincidências e crer no divino de se ver no outro. É acordar e ainda se ver deitado em outro sono.
Sonho colorido é um estágio de conquista que dura para sempre. É dividir semelhanças e falar enquanto se pensa. É falar a mesma coisa ao mesmo tempo e rir disso. É divergir no banal e concordar no essencial; aventurar-se no perigo de utilizar as mesmas estratégias, de demonstrar os mesmos defeitos, mesmo que em diferentes proporções.
Sonho colorido não é escolha; é encontro. Sonho colorido é viciante. É ir de encontro à máxima dos opostos. É contestar o magnetismo dos contrários e verificar que o norte se une a outro norte. O sonho colorido não é parte de um sono que já foi. É o tipo se sonho que se sonha de olhos abertos.
Sonho colorido é pétala de uma mesma flor. É flor de um mesmo jardim. É ter limites parecidos. É transgredir parecido. É impressionar-se a cada atitude. É uma aquarela sem bordas nem pintor. É um infinito quadro imaginário pintado a cada semelhança. É pintar a mesma cor em desenhos diferentes.
Sonho colorido é moeda tirada da fonte dos desejos. É pedido de felicidade. É ter as mesmas paixões. É identificar-se em hábito e rotina. É ter esperança de encontrar alguém com quem dividir felicidade. É relevar e descartar intransigências. Sonho colorido é névoa. Sonho colorido é fortaleza. É sorrir com pensamento.
É coração de mesmo tamanho. É coração.
###
As cores desse sonho já duram por três meses. E que venham mais meses, acompanhados sempre, é claro, de novas cores. E de novos sonhos.

sábado, janeiro 14, 2006

nenhum vírus foi encontrado


O antivírus funciona como uma poderosa arma na busca e apreensão dos diversos males responsáveis pelos infinitos danos aos equipamentos da informática. É certo que não são totalmente eficientes na sua tarefa, pois novos vírus são ininterruptamente fabricados por especialistas em destruição, cujos efeitos são devastadores. Porém, devidamente atualizados, protegem contra muitos danos capazes de deletar arquivos, de destruir programas, de apagar memórias, de devastar equipamentos, entre outros.
Já imaginou quão bom seria se nós, seres humanos, também possuíssemos certos dispositivos que pudessem nos proteger dos danos que certos vírus nos causam? Não falo daqueles vírus já reconhecidos pela Medicina e pela Biologia, mas dos vírus que danificam nossa alma, que ferem nosso coração, que destroem nossos sentimentos, que nos tornam cada vez menores (ou maiores). Falo das injúrias do mundo, dos vírus produzidos pela maldade humana. Falo das demonstrações de falta de caráter, do desprezo às necessidades dos mais necessitados. Falo do descaso com o meio ambiente, da politicagem barata, da violência desenfreada. Da prática da maldade, do desrespeito ao próximo, da falta do bem-conviver. Da fabricação de inimigos e da falta de amizade. De saber que se acaba com algo muito mais rapidamente do que o tempo que se leva para construí-lo. Estes sim são vírus reais, mais poderosos do que qualquer outro já produzido artificialmente.
Pois é, como seria bom que fôssemos equipados com antivírus contra esses males, não? Assim, bastaria uma simples atualização, tão simples quanto um clique no mouse, para retirar todas as desgraças intensificadoras de nossa vergonha, para nos proteger das infiltrações da maldade no homem. É a partir desses “devaneios” que é possível perceber que existem, sim, tais remédios. Que há dentro de cada um de nós um antivírus mais complexo e poderoso do que qualquer objeto invasor. É assim que deve ser percebida a capacidade de destruição do homem: uma invasão capaz de ser combatida. Não acredito que o ser humano é inerentemente destruidor; acredito, sim, que é de nossa natureza a capacidade de renovação. Que podemos nos reconstruir através de nossos próprios erros, que podemos atualizar o nosso antivírus contra tudo o que nos faz sofrer.
Mas a maldade é voraz e sempre se acostumou a esconder de nós um artifício tão importante para a nossa sobrevivência. Os efeitos das tragédias de nós mesmos são tão devastadores que nos impedem de ativar nossos antivírus. E por isso deixamos que nosso HD seja consumido pela mesquinharia, que nossas memórias sejam devastadas, nossos arquivos mais importantes não possam ser acessados...Somos responsáveis por nossos rumos, somos responsáveis por nossas próprias agruras e angústias.
Está certo que não somos protótipos de bondade, mas também não somos projetos de maldade. Como muitos dizem, temos o bom e o ruim dentro de nós...Isso pode até ser verdade, mas o porquê de o mal previamente transparecer é tão deprimente, que me recuso a acreditar que possuímos potencial de destruição. A podridão, a gente consome; não produz. Ela está aí solta para ser absorvida pelos mais fracos. Não nascemos doentes; adoecemos. Nascemos inocentes e somos corrompidos pela corrupção. É triste demais acreditar que somos pré-dispostos para algum mal. É melhor pensar que não temos pré-disposição alguma... Estas vão sendo alimentadas ao decorrer de nossas más/boas experiências, desde a placenta ao caixão.
Como já dito, somos máquinas ambulantes de reinvenção, não de tragédias, e do mesmo modo que fabricamos armas de destruição, podemos fabricar antídotos de sobrevivência. Contesto plenamente o derrotismo e aprovo conscientemente o otimismo no mundo e nos seres humanos. Somos capazes de derrubar árvores, mas podemos plantá-las. Matamos, mas criamos vida. Roubamos, mas damos presentes. Erramos, mas acertamos depois. Caímos, mas levantamos em seguida. Odiamos, mas amamos. E amor é muito, mas muito maior.
Enquanto houver mãos para lutar pela vitória, não estaremos derrotados. Devemos sempre admitir que temos um potencial de mudança bem maior do que nós mesmos ou qualquer outro acreditam. E esse antivírus é a consciência de que somos capazes de burlar os maus exemplos e aprender com eles e não praticá-los, mas superá-los. Quem já superou alguma doença que parecia irrecuperável ou que já atingiu limites aparentemente inalcançáveis sabe do que eu estou falando. Enquanto existir a força para não desistir, a força de resistir, nós podemos sonhar com um mundo menos injusto, menos sedento por sangue, com menos disputa e mais ajuda. É assim que se conquista o caminho de momentos mais felizes, com boa vontade e certeza de êxito.
Nossos antivírus são nossos ideais. É preciso perceber que possuir um ideal não é ilusão, mesmo que o Mal seja tão grande a ponto de nos fazer querer jogar tudo pro alto e nos entregar. É Neste momento que temos a maior certeza de que devemos prosseguir, pois é sinal de que o mundo precisa mais do que nunca de nossos ideais, para que o Bem seja maior. Nunca é pouco acreditar. E acreditar não é um simples sopro no vento. É fazer ventar!
###
Mais um texto de uma leva meio antiga. Este, na verdade, é o segundo de uma tentativa pessoal de fazer brotar em mim alguém que escreve no sentido estrito da palavra e não só "escreve" histórias loucas que se perdem nas loucuras da mente. Nossos antivírus são nossos ideais. Não deixe seus ideias se perderem em suas loucuras e faça um pouco de vento com os papéis de suas idéias.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Reticências...


***
Não demora muito e aparecem reticências em nossas vidas...Frases não-ditas...Subentendidas...Momentos para lembrar...Para esquecer...Saudades...Projeções...Desejos não atingidos...Não-satisfeitos...Promessas não cumpridas...Promessas desfeitas...
E com isso, crescemos...Aprendemos com as reticências e com o silêncio que elas representam...Vazias?... Erro crasso... Elas são infinitas... Preenchidas por tudo o que quisermos...Elas são completas pela sugestão...Imensa responsabilidade a de preenchê-las...Responsabilidade nossa...Reticências são por excelência nosso mais lacunoso recurso...Representam o que quisermos que elas representem...Traduzem a ignorância e a sapiência...A tristeza e a alegria...O momento e a espera...A vitória e a derrota...O erro e o acerto...A surpresa e a antecipação...O início e o fim...Significam opostos...Daí a necessidade de saber usá-las...Este instrumento poderoso de quem quer se fazer entender ou confundir...Reticências são fins inacabados...Esperanças de uma continuidade ou a certeza de algo incerto...Pistas...O caminho para as pistas...A vontade e o desprezo...Respostas sem perguntas...Perguntas sem respostas...São qualquer coisa ou quase nada...São o que buscamos e do que fugimos...São a saída e a prisão...São a clareza e a vagueza...São o simples e o complexo...São o meu e o seu...São o que não quero e o que desprezo...São palavras e a falta delas...Dizem tudo e se calam...São precisas e aleatórias...Riem e choram...São obscuras e diretas...São objetivas e metafóricas...São transparentes e opacas...São místicas e racionais...Introduzem e concluem...Produzem e estatizam...Plantam e devastam...Perturbam e acalmam...Conquistam e decepcionam...Esperam e se fazem esperar...Agilizam e demoram...Significados sem significância...
Meu medo e minha coragem são reticentes...Todos somos reticentes...Até que morremos e elas acabam...Acabam-se a criatividade e a arte criadora... Até que ele, sondando, repentinamente se faz perceber...Ele vem e as leva, as afasta, as apaga...E as rouba para sempre, finalizando sua grandeza...Arrasta tudo...Mas não descarta as saudades...Vem como um furacão solitário e destruidor...Vem e se faz logo notar...Devastador...Misterioso...Melancólico...Vem e decepciona nossa imaginação...Não sugere e não produz...Ele nos elimina e não recomeça...Fria e calculadamente ele se aproxima...E, assim, aparece, uno e pobre e pequeno e poderoso ponto.
*
Texto mais antigo, alguns já conhecem, mas não podia deixar de constar aqui. Meu ponto ainda não chegou, portanto tenho que aproveitar as reticências, não??

quarta-feira, janeiro 04, 2006

brincando de ser criança


É bom brincar de ser criança. E essa brincadeira deve ser levada muito a sério. Todos conhecem a máxima mais que certa de que todo mundo quando cresce deseja voltar a ser criança. Porém, o tempo, implacável como ele só, nos nega veementemente essa possibilidade. Contudo, quem nega é o tempo, meus caros. Apenas ele. O nosso estado de espírito, nossa imaginação, nosso coração...não! Contra estes nada o tempo pode fazer senão fazê-los envelhecer. E isto ele faz com voracidade!! Só que nós podemos contra-atacar!!! Como?? Bem, esse é o assunto a ser discutido.
Somos extremamente vulneráveis aos efeitos devastadores do tempo. Ao fazer o que nos é de mais direito fazer, viver, nos entregamos aos braços imbatíveis do senhor tempo. E o viver para muitos significa amadurecer, acumular experiências, crescer em todos os sentidos e seguir em frente na longa (ou breve) escalada do senhor tempo até chegar a hora da despedida. E esse viver muitas vezes encontra por este caminho obstáculos diversos, que nos fazem apagar o passado com uma bocharra boa pra danar, nos tornando a cada dia que passa adultos igualmente sérios e compenetrados em estudar, trabalhar, pensar no futuro, futuro, futuro. Nos faz deixar de rir, nos faz deixar de brincar. As responsabilidades trazidas pelo senhor tempo tendem a não nos conservar aquela criança que habita em nós e aí se esconde . É então que entra nosso grande ponto a favor que temos contra o tempo. É não deixar morrer essa criança. Podemos viver, sim, mas com alegria e sinceridade de criança. Podemos e devemos ser adultos, com todos os afazeres de adultos, com ordens a dar e a seguir, gente para educar, contas a pagar, viagens a fazer, mas sempre com um sorriso que conserve aquela ingenuidade e honestidade infantil nos lábios. Sempre com aquela disposição interminável que nos faz perder os limites vez em quando.
A infância é o período mais curto de nossas vidas e dela apenas levamos flashes, bonecas carecas, carrinhos sem roda e roupas pequenas. Devemos levar muito mais. Devemos levar sempre conosco aquele pequeno grande coração que foi desamolecendo ao longo do senhor tempo à medida que cada vez mais aumentava o volume de sangue bombeado. Devemos sempre nos lembrar da criança que fomos para formar o adulto que queremos ser.Eis mais um motivo por que devemos levar tão a sério esse negócio de ser criança, sem medo de nos chamarem de infantil. Antes ser um infantil, meus caros, a não poder reviver a criança dentro de nós por esquecer de ter sido uma. Seja criança novamente não só por você, mas pelo mundo ao seu redor, que a cada minuto transforma o sentido dessa palavra. Não deixe a infância morrer. Nem que para isso você deva ressuscitar a sua dentro de você.
Por isso é bom brincar de ser criança. E antes que o senhor tempo devastador leve para muito longe a criança que um dia você foi, dê uma volta na grande roda que é a vida e ‘bata salve-todos’ pela sua.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

(dois mil e seis) sorriu para vocês


O passado ainda está tão presente, que fica um tanto quanto difícil de prever o futuro. Mais um ano se despediu de nós e fica sempre aquela balança invisível de nossas cabeças que regula os arrependimentos e as novas resoluções. E aí sempre rola aquela avaliação se foi um ano bom ou ruim. Para mim, não existe ano bom ou ruim. Vá lá dizer que um dia foi bom ou ruim, mesmo porque 24 horas nos permitem fazer uma avaliação mais detalhada. Já 365 dias se trata de um espaço de tempo muito grande – ou não – para que se diga se foi um período feliz ou não. Avaliar se foi um ano positivo ou negativo é tão difícil porque para mim esta avaliação está intrinsecamente ligada ao conceito de felicidade. E este é um dos sentimentos mais complexos, pois chego até a duvidar sequer da permanência dele. Assim como acho que há apenas momentos felizes – e é só então que a felicidade aparece -, da mesma forma me é complicado avaliar se 2005 foi feliz. Teve, portanto, momentos felizes. E se a felicidade em sua completude existe, ela se fez presente apenas nestes momentos.
“Por onde vou guiar o olhar que não enxerga mais?”, disse o poeta, abrindo espaço às previsões, à vontade de ver a luz, de conhecer o que está por vir. De ver anunciado o horizonte distante que, quem sabe, guarda momentos felizes. Assim é 2006, um ano de esperanças diversas, mas um ano de pés no chão. Sabe aquele texto lá em baixo sobre incerteza?? Pois é, deixe a incerteza positiva guiar este ano que lhe mostra os dentes! Deixe a retrospectiva de 2005 ser ofuscada pela falta de uma expectativa detalhada de 2006. Não espere muito de um ano que mal começou. Planeje-se, trace objetivos, organize-se. Mas não tente prever cada detalhe. Não tente supervalorizar os percalços, as dificuldades. É com a improvisação que mais se aprende. Guie o novo ano como um encapuzado que vai aprendendo a enxergar melhor com os outros sentidos, em vez de morrer sufocado. Burle a pontada de vontade que sempre dá de desejar a perfeição ou um divisor de águas que vá mudar tudo repentinamente. Porque certamente seu pedido não será atendido.
Apronte-se para 2006!! Ele se apresentou com um sorriso para você. Cabe, então, retribuir a simpatia com muita garra e força, para no final dizer que ele valeu a pena, seja sendo avaliado como bom ou ruim por você. Para mim, 2006 já é um ano de momentos felizes, pois começo com saúde, disposição e, melhor ainda, tenho família, amor e amigos para me ajudar caso um destes me falte no trajeto. Portanto, não há o que tentar prever ou esperar; há o que viver !!!! 2006 sorriu para vocês!! Faça como diz a boa-educação e humildemente sorria de volta. E, se puder, seja mais ousado: estenda-lhe a mão e o convide para dançar.