quinta-feira, setembro 21, 2006

Estado crítico constante


Eu sou uma panela de pressão. Resistente, suponho que de bom material, aparentemente sem rachaduras, útil para diversas coisas e ineficiente para outras. Consigo resolver muitas coisas facilmente, mas estouro se me superocuparem. Acumulo as coisas externas, isolando o que vem de fora de tal forma, que crio um estado interno de alta pressão capaz de "cozinhar" rapidamente as minhas coisas. Desse modo, crio estágios diferentes de pressão interna e externa e vou soltando, aos poucos, meus sentimentos internos, em busca do esperado equilíbrio constante, com o resultado do meu esforço nas minhas mãos.
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E, ultimamente, essa panela tem estado trabalhando em estado crítico constante. Esperando o dia de estourar, torcendo para isso não acontecer, se controlando para os danos não ferirem ninguém à sua volta, contentando-se com os prejuízos de si mesma. Essa panela nunca foi de dar problemas, mas se preocupa, a cada dia, com a possibilidade de um dia provocá-los. Talvez precise de uns reparos, talvez precise de alguém que enxergue seus problemas, talvez precise ser substituída...Mas certamente ela não deverá desistir de trabalhar. Isso jamais!

segunda-feira, setembro 18, 2006

Recife cor de tijolo


Não posso dizer que conheço bem minha cidade, nem consigo afirmar com segurança que domino seus roteiros, seus caminhos...Mas o pouco que conheço faz brotar em mim a plena certeza de que a amo e, acima de tudo, a admiro. Nascido na periferia e criado na Região Metropolitana, fui acostumado a viver em outras realidades, que nada mais são do que meros alongamentos da minha cidade natal, que sempre esteve tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Assim, minha vida inteira sempre foi um grande aprendizado sobre essa cidade, e a cada novo capítulo de minha história, era-me apresentada uma nova página de Recife.
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Alguns momentos me sinto até acanhado de demorar tanto a enveredar por seus caminhos, por ter perdido tanto tempo, numa espécie de frustração dos momentos que poderia ter aproveitado naquelas ruas que nem sequer sabia que existiam...Mas, ao mesmo tempo, percebo que esse relativo atraso talvez tenha me ensinado a valorizar ainda mais as qualidades dessa Cidade Maurícia. E como ensinaram...
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Às vezes me sinto enfeitiçado pela cor de tijolo dos bairros antigos, pelo cheiro forte do rio sob as pontes de metal. Hoje o Recife me encanta de tal forma, que me faz esquecer por diversas vezes de seus graves problemas, que meus também o são. Adoro a disposição que o corte do Capibaribe faz nela, sem seguir uma linha reta e friamente divisória, apenas. O Rio parece passear pela cidade e dá voltas como se para cumprimentar cada esquina da minha cidade de praças, de ruas ladrilhadas, de postes iluminados no cais.
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O centro da minha cidade é tão referencial que, de costume, é chamado de "cidade'. É na "cidade", ou seja, no Centro, onde tudo se concentra, de maneira tal, que é como se ele dispusesse radialmente para os outros bairros, sejam do Norte ou do Sul, reflexos do que lá acontece diariamente...Aprendi a andar um pouco pelas ruas do Centro, e a me apaixonar pelo contraste dos costumes modernos com construções tão antigas, que nunca nos deixam esquecer de nossa rica História...
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Ah, a História....me mata de orgulho a História de minha cidade... No passado - e no presente, que fique claro- funcionava como um verdadeiro celeiro intelectual e artístico, profusor de ideais, de idéias, de cultura e de movimentações políticas. O passado do Recife nos invoca a grande responsabilidade de manter esse espírito vanguardista e tão peculiar e nos faz perceber sua extrema importância na construção deste País.
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E nossa gente... Tão sofrida, e tão batalhadora, que rema contra os percalços impostos por nossa própria desorganizaçao. Antes, um povo de vizinhança, de conversa fiada na calçada de casa e fofoca na banda de jornal. Hoje, uma gente que teme cada sinal de trânsito, e se guarda, e se esconde, com medo do lado de fora (e tem motivos para temer inclusive o lado de dentro). Mas é este povo que representa a faceta mais linda do lugar, é este povo que dá vida aos movimentos de uma cidade tão castigada, mas brava e linda e de cor de tijolo que tanto amo.
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Falar dessa cidade para mim é como falar de alguém que ainda não se conhece por completo: há sempre uma nova surpresa para contar. Surpresa esta, que me vem em forma de orgulho e em vontade de homenageá-la sempre. Vem em forma de amor.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Imperfeição


Eu amo o passado. Apesar de não conhecer História a fundo, nem ter uma mente ultrapassada, adoro olhar para trás e perceber o caminho que fiz. Eu gostaria de ter uma página anotada sobre cada episódio de minha vida e uma foto para cada cena importante. Gostaria de rever o áudio de cada frase que me fez sorrir ou chorar. Gostaria de presenciar novamente meus erros e meus acertos. De rir de minhas gafes, de minhas roupas antigas. Eu sou um completo saudosista do que se passou comigo.
Muitos dizem que o passado é para ser esquecido...Refuto fervosoramente essa afirmação! Por que hei de apagar de minha memória um roteiro completo de caminhos trilhados, que me ensinam com clareza qual o caminho que não devo seguir? Condordo, sim, em não andar para frente com a cabeça virada para trás! Isso, não!! Eu sou adepto da boa olhada por cima do ombro...
Escrever, por exemplo, é um de meus passatempos favoritos e das atividades que mais me ensinam a me conhecer. Cada linha que escrevo mostrará eternamente o que se passou na minha cabeça certo momento. Assim, cada texto que fica para trás surte efeito semelhante ao das páginas de diário e das fotos instantâneas que mencionei mais acima. Além de um ótimo hábito, escrever me faz traçar um roteiro de todas as minhas sensações, opiniões e sentimentos. Como é bom reler mais à frente o que escrevi mais atrás. E como é bom saborear minhas imperfeições...Por esta razão, não sou do tipo que busca a perfeição. Adoro os erros de meus textos (se forem de digitação, eu corrijo) e me divirto muito quando, depois de um certo tempo, vejo alguma colocação imatura, incoerente, ingênua. É como se olhasse para trás e pudesse mensurar de alguma forma o quanto mudei e o quanto sou capaz de (re) fazer melhor.
Ao meu ver, a letra é expressão do momento atual de quem escreve, com as imperfeições da época, com os riscos e imaturidades do passado em que escreveu seu texto. Logo, não deve ser mexido. Ele pode ser aprimorado esteticamente, concordo. Mas na hora!! Não depois!! O que vem depois é um retrato. E realizar uma espécie de "fotoshop' num texto do passado dá a mesma impressão artificial que a gente vê nas capas de revistas. Sou a favor da obra sem enfeites acrescidos, sem retoques. A favor do texto que retrate perfeitamente o que se foi.
É por esta maior razão que escrevo. Para poder me guiar não em busca da perfeição. Mas, sim, para me reconhecer nada menos como alguém imperfeito, em construção.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Facínoras fascinantes


Como viver é engraçado...Somos seres altamente complexos - ou pelo menos nos achamos assim- e somos capazes de agir de diversas maneiras, em diferentes situações, em distintos momentos e lugares. Somos, digamos, seres altamente versáteis, adaptáveis, cuja característica das mais marcantes reside simplesmente na insatisfação. E este ponto é imprescindível na percepção do quanto complexos somos. A grande maioria das pessoas teoricamente nasceu para atingir objetivos: aprendemos que devemos viver em busca da felicidade, e ela, de modo geral, deve vir revestida de saúde, amor e dinheiro no bolso. Mas, quando se tem tudo isso, nunca se sabe se a felicidade já chegou. Não venho aqui falar de felicidade, mas do quanto somos injustos com a felicidade que nos é apresentada. Para nós, ela é o grande objetivo, mas nunca a reconhecemos, simplesmente porque nossa incessante "vontade do mais" nos nubla a devida consciência. Somos inconformados por natureza, e esse estado de entropia constante nos torna cada vez mais investigadores de novidades que venham a preencher o estado vazio causado por algo que está para chegar, mas chegou e não se percebeu. Somos animais que pensam (demais) e, por isso, sentimo-nos obrigados a fazer jus a essa capacidade única: queremos mais! Queremos sempre buscar uma forma de ultrapassar limites, de aumentar nossas áreas de influência, de esticar nossos passos, de aumentar nosso ritmo. Corremos sempre em busca de recordes, de galgar degraus mais altos e mais difíceis...E, nessa trajetória, esquecemos de nós mesmos...Esquecemos, por conta dessa corrida pela felicidade plena que nunca virá, que já somos felizes. Não percebemos o quanto o presente de ir em busca da felicidade nos mostra caminhos felizes! Mas não os vemos...E, assim, felizes que somos, vemo-nos muitas vezes tristes por não encontrar a felicidade com que sonhamos.
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Somos facínoras fascinantes, verdadeiras vítimas de nós mesmos...

segunda-feira, setembro 04, 2006

Negócio


Eis o negócio:
não negue o ócio
e seja meu sócio.