segunda-feira, setembro 18, 2006

Recife cor de tijolo


Não posso dizer que conheço bem minha cidade, nem consigo afirmar com segurança que domino seus roteiros, seus caminhos...Mas o pouco que conheço faz brotar em mim a plena certeza de que a amo e, acima de tudo, a admiro. Nascido na periferia e criado na Região Metropolitana, fui acostumado a viver em outras realidades, que nada mais são do que meros alongamentos da minha cidade natal, que sempre esteve tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Assim, minha vida inteira sempre foi um grande aprendizado sobre essa cidade, e a cada novo capítulo de minha história, era-me apresentada uma nova página de Recife.
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Alguns momentos me sinto até acanhado de demorar tanto a enveredar por seus caminhos, por ter perdido tanto tempo, numa espécie de frustração dos momentos que poderia ter aproveitado naquelas ruas que nem sequer sabia que existiam...Mas, ao mesmo tempo, percebo que esse relativo atraso talvez tenha me ensinado a valorizar ainda mais as qualidades dessa Cidade Maurícia. E como ensinaram...
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Às vezes me sinto enfeitiçado pela cor de tijolo dos bairros antigos, pelo cheiro forte do rio sob as pontes de metal. Hoje o Recife me encanta de tal forma, que me faz esquecer por diversas vezes de seus graves problemas, que meus também o são. Adoro a disposição que o corte do Capibaribe faz nela, sem seguir uma linha reta e friamente divisória, apenas. O Rio parece passear pela cidade e dá voltas como se para cumprimentar cada esquina da minha cidade de praças, de ruas ladrilhadas, de postes iluminados no cais.
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O centro da minha cidade é tão referencial que, de costume, é chamado de "cidade'. É na "cidade", ou seja, no Centro, onde tudo se concentra, de maneira tal, que é como se ele dispusesse radialmente para os outros bairros, sejam do Norte ou do Sul, reflexos do que lá acontece diariamente...Aprendi a andar um pouco pelas ruas do Centro, e a me apaixonar pelo contraste dos costumes modernos com construções tão antigas, que nunca nos deixam esquecer de nossa rica História...
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Ah, a História....me mata de orgulho a História de minha cidade... No passado - e no presente, que fique claro- funcionava como um verdadeiro celeiro intelectual e artístico, profusor de ideais, de idéias, de cultura e de movimentações políticas. O passado do Recife nos invoca a grande responsabilidade de manter esse espírito vanguardista e tão peculiar e nos faz perceber sua extrema importância na construção deste País.
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E nossa gente... Tão sofrida, e tão batalhadora, que rema contra os percalços impostos por nossa própria desorganizaçao. Antes, um povo de vizinhança, de conversa fiada na calçada de casa e fofoca na banda de jornal. Hoje, uma gente que teme cada sinal de trânsito, e se guarda, e se esconde, com medo do lado de fora (e tem motivos para temer inclusive o lado de dentro). Mas é este povo que representa a faceta mais linda do lugar, é este povo que dá vida aos movimentos de uma cidade tão castigada, mas brava e linda e de cor de tijolo que tanto amo.
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Falar dessa cidade para mim é como falar de alguém que ainda não se conhece por completo: há sempre uma nova surpresa para contar. Surpresa esta, que me vem em forma de orgulho e em vontade de homenageá-la sempre. Vem em forma de amor.

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