sexta-feira, junho 23, 2006

Para Elizabeth, com carinho


Eita, se isso aqui falasse
Isso aqui de dentro
desse lado que tanto usas..
Ah, se isso aqui pudesse dizer em palavras
tudo daqui de dentro
todo sentimento
quem sabe ao certo
quanto tempo
iria levar...
Se você pra mim é exemplo
Se você pra mim é alguém
isso aqui de dentro gosta mais do que gostar.
Esse aqui, grande companheiro
não é muito bom no saber
mas é melhor no sentir
e o que ele sente por você
há poucas palavras pra dizer.
Mas se num segundo ele pudesse
emitir algo que um simples "tum"
seria "te amo, amiga
somos dois, somos um
de alma e canção
somos assim, irmãos
escolhidos, por mim,

o coração."

sábado, junho 17, 2006

Vida Passageira


A gente aprende muita coisa andando de ônibus.
As pessoas que têm um senso crítico mais apurado e que estimulam em si mesmas a pura observação são as que mais evoluem nesse aprendizado.
E eu, há um tempo atrás, antes de me tornar freqüentador assíduo dos ônibus, não tinha nenhuma dessas características. Mas, inevitavelmente, andar de ônibus me fez cultivá-las, o que me ajudou bastante a formar este ser complicado que sou hoje.
Pois bem.
Andar de ônibus me deixa muito tempo sozinho comigo mesmo. No começo de minhas andanças, que contabilizam cerca de duas horas e alguns minutos dentro de ônibus diariamente, eu nem sentia essa presença solitária de minha consciência, pois ainda o caminho me entretia, a esperança de encontrar conhecidos era viva, a possibilidade de dormir era grande - pois o cansaço era igualmente grande; e ainda é -, bem como pensar na vida era um passatempo muito bom para passar o tempo. E pus bastante em prática estas atividades: me divertia com as paisagens, esperava por conversas animadas com conhecidos que há muito não encontrava, dormia e pensava.
Mas isso tudo, sinceramente, enjoa.
Enjoa porque se cria uma rotina. E, no ônibus, é muito difícil de se quebrar essa rotina. Pelo menos até eu comprar meu aparelhinho de mp3, que vai me desligar completamente do mundo do transporte para o mundinho introspectivo de minhas músicas favoritas. Sonho com esse dia em que não mais vou precisar reparar em conversas para passar o tempo. Desejo com ansiedade o tempo em que não mais precisarei me contentar em ler "outdoors", nem ficar bolando versinhos que se, não anotar na hora, certamente vou esquecer. Cansei mesmo de ter que pôr minhas técnicas de pegar no sono em prática. (Depois eu as conto aqui). Cansei!! Eu não estou reclamando de andar de ônibus, não. Mesmo porque é uma realidade bastante real minha. Afinal meu peugeot está tão longe de se concretizar...(hehehe) Mas é que o ser humano é inerentemente insatisfeito.
E olhe que eu me satisfaço com tão pouco de tudo...
Mas, para divertir este texto chato e turrão e reivindicador de uma causa menor, aqui vão dois diálogos colhidos no ônibus, numa de minhas observações mais interessantes. Numa conversa de pai pra filho, anotei - isso mesmo, se não tivesse anotado, certamente teria esquecido - dois trechos de um longo diálogo que me fez ficar acordado em plena manhã de domingo ( muito cedo) numa de minhas idas para o fim do mundo para fazer concurso público. O garoto tinha lá seus 11, talvez até menos, ou até 12, sei lá. Eu sou péssimo para chutar idades, mas o que era certo mesmo nele era sua inteligência e esperteza. Bastante amadurecido, falava com o pai do mesmo patamar, utilizando das mesmas expressões que ele, deixando claro que era criança, mas que isso não o impedia de ter uma conversa de igual para igual com o pai. Este, em retorno, parecia estimular essas característica do filho, e travou diálogos tais com ele, que só me fizeram perceber a relação pai-filho apenas pelo modo como se chamavam. Apenas isso.
Então tá. Aí vão na íntegra, dois trechos da longa conversa ( só copiei esses, deixo bem claro) :
- Pai, Costa do Marfim é "Elefante", é?
- É.. é a "Terra dos elefantes."
- E porque o Brasil é canarinho? Que nome...
- Porque o Brasil é amarelo, ué.
- Mas, pai, tem canário de outra cor.
- Tem não.
- Tem sim !!!
- Não tem, meu filho, todo canário é amarelo!!!
- Canário da Terra ...??
- A ma re lo !!
- Oxe..então o Brasil deveria se chamar calanguinho... num tem verde...
-..., calou-se pai.
***
Mais tarde, lá pelo final da viagem, veio esse:
- Pai, no Brasil tem vulcão?
- Não, não tem.
- Poxa - respondeu o garoto, insatisfeito- , deveria ter pelo menos um....
***
Pois é...é por causa dessas e outras que uma viagem chata de ônibus pode se tornar interessante. Para pessoas acostumadas a reparar de verdade nas outras pessoas, a chatice pode se transformar.
Mas, sinceramente, até isso às vezes cansa.
Mas diz aí se esse menino num é esperto. Gostei dele.

segunda-feira, junho 12, 2006

*eueela*



ela, o tecido
eu, a linha
ela, o vestido
eu, a estampa
ela, a flor
eu, a pétala
ela, o caderno
eu, o arame
ela, a preguiça
eu, a cama
ela, a meiguice
eu, a energia
ela, a calma
eu, a eletricidade
ela, o charme
eu, a simpatia
ela, a delicadeza
eu, a gentileza
ela, o sorriso
eu, os dentes
ela, a palavra
eu, a letra
ela, o móvel
eu, o verniz
ela, o coração
eu, o cérebro
ela, o cérebro
eu, o coração
ela....
eu....
eu....
ela....
assim a gente se completa.

sábado, junho 10, 2006

Compreensão



Eis que, abruptamente, pára o motorista e fala:
- Desce!
_ ... ! - respondeu a mulher, estupefacta.
Após um clímax nada amortecido pelo silêncio, ambos entrecruzaram olhares e entenderam, sem entender, que foram feitos um para o outro.
E ela nunca mais desceu daquele carro, pois, momentos depois, este veículo em que se encontravam patinava na pista molhada, indo de encontro a uma grande muralha.
Ah, se ela tivesse descido....
Talvez a compreensão encerrada naquela troca de olhares a tenha matado. Mas a fez morrer com a certeza de alguma vez já haver amado.

segunda-feira, junho 05, 2006

Impureza


Impressões, imagens rubras no olhar
suspirando pela luz que trará
mil histórias e memórias
de loucuras e atitudes de lá
Coisas imprecisas, clarão
de vazios, roupa suja no chão
desperdício, sacrifício
de sucessos que jamais saberão
Horizontes, nuvens no céu
brigadas de guerra, bordel
pelas ruas, seminuas
fêmeas estendidas num carrossel
Predispostas, sob rigor
Nunca saber o que é amor
Más condutas, absolutas
de quem troca ilusão pela dor
Sustentando sonhos sem fim
sem saber que vida assim
extraviada, madrugada,
desconstrói a esperança do sim
Nos asfaltos, reflexos
sombras estendidas ao sul
bem perplexas, desconexas,
procurando carros no azul
Os faróis as iluminam
escondendo a exposição
das vergonhas, com tamanha
fama de quem luta contra a emoção
Nessa estrada de sedução
droga, vida, nota é jargão
mais doenças, mais descrenças
mero triunfo da solidão
Mas se nunca o sol raiar
a necessidade de estar
na cidade, liberdade
vaidade pra dispensar.
Sofrimentos custam em vão
o valor do seu coração
impureza, mas beleza
no interior de uma canção...

quinta-feira, junho 01, 2006

Crítica à felicidade


Todos dizem que tudo passa, que é só pensar no melhor, que as coisas servem apenas para aprendermos, que somos fortes, que no final tudo fica bem. Isso deveria se chamar otimismo? Otimismo para mim não é essa certeza e essa fé desenfreada de que no fim tudo irá florir. Otimismo é a certeza de que se fez o possível para que a flor crescesse um pouco. E é difícil ser otimista novamente quando se acha que se fez o necessário, e mesmo assim não se viu pétala sequer. É difícil...Mas é impossível?
Muitas vezes me peguei pensando que sou abençoado por ter amigos bons e fiéis, pessoas queridas que me fazem sentir bem a cada lembrança, que estou num caminho considerado privilegiado em relação a maioria das pessoas da minha idade, e que, apesar de tudo, sou feliz por ser o que sou hoje: alguém que soube se construir a ponto de não deixar ser desconstruído por pouca coisa (nem por muita).
Esses pensamentos todos confortam, contudo não deixam a certeza de que esse caminho terá sempre a linha traçadinha, pronta a ser vista e seguida a cada curva, cujos destinos não podem ser muito além daqueles já traçados. Ou seja, dão a errônea previsão de que só por ter seguido o caminho certo até agora, será muito difícil que esse caminho se desvirtue e tudo passe a dar errado. Aí é que se encontra a nova reflexão: apesar de tudo parecer estar certo, a qualquer momento a vida pode nos surpreender. Um caminho perfeitinho, bem trilhado, nos conformes, pode ir de encontro a um abismo a qualquer momento. E a consciência dessa incerteza (im)provável funciona como um botãozinho de alerta pronto a ser acionado sempre que esse caminho está indo por outra rota.
Portanto, meus caros, longe de mim fazer transparecer aqui que minha rota está mudada, ou que caí no abismo perdido das minhas expectativas frustradas. Mas que é importante perceber que esse botão de alerta está tão vivo quanto a certeza de que o bom pode acabar a qualquer momento. E de que somos tão vulneráveis aos efeitos dessa vida que, apesar de maliciosa, nos ilude com um sorriso de criança, fazendo-nos esquecer que às vezes ela pode nos calçar, caso deixemos a aparência desse sorriso nublar o próximo passo. Vamos, sim, dar vazão à felicidade, mas sem esquecer que um momento feliz é apenas uma amostra do que a vida pode dar, caso façamos sempre o que parecer correto. Caso contrário, aquela estrada bem sinalizada, iluminada, margeada por árvores frondosas, que compõem um destino propenso ao sucesso, se não for constantemente analisada criticamente em sua aparente perfeição, pode, repentinamente, levar a um beco sem saída. E, desse beco, a saída tende a ser mais difícil.
Bem-vindos à crítica à felicidade. Felicidades!!!