quinta-feira, julho 03, 2008

Blog


A primeira idéia que pode surgir à cabeça quando se fala em ' blog' é que está na moda, que é uma espécie de identidade virtual que assegura e situa o indivíduo na rede. É o endereço, o espaço do usuário de internet. Se o fato de não existir um website com meu nome é demais para a minha ordinariedade, um blog é suficiente para tanto. Mas vai além disso.

O hábito advindo com a experiência vitoriosa dos 'blogs' na internet de uma certa maneira vai de encontro à preguiça sempre taxada como característica da geração internet. Ao contrário da simplificação de mundo imposta pelo mundo virtual, os blogs o expandem, detalham as culturas, os hábitos e os costumes. Explico.

Antes do "boom" de blogs, havia 'fotologs' - que ainda existem, embora em menos número, muito por conta do orkut, suponho -, e estes nada mais são do que a exposição de fotos - muitas vezes pessoais - acompanhados de textos, que serviam como mera ilustração ou explicação da situação na foto, etc. Em sua grande maioria, os fotologs serviam como um sintoma da necessidade de exibição, acompanhados de textos quase sempre modestos - para não dizer pobres. Os blogs surgiram como um caminho oposto.

Primeiramente, a proposta era criar um diário vitual, nos quais os indivíduos desabafariam assuntos por eles escolhidos, qualquer coisa, qualquer baboseira. Entretanto, nos blogs, a importância seria dada à palavra, e não à imagem.
Atualmente, existem blogs para todos os gostos. Existem, sim, os diários virtuais - muitos deles criativos -, mas ampliou-se o leque de possibilidades: há blogs de opinião, de resenhas, de críticas de cinema e música, de informação, de downloads, de links, literários, e até de - ora essa - imagens. Quase tudo na internet hoje termina ou começa através de um blog. Quase todo artista que se preze hoje atualiza um blog, a fim de interagir melhor com seu público e angariar outros tantos- ou simplesmente pela legítima vontade de se expressar pela palavra, como qualquer outro. Qualquer um cuja necessidade de desabafo seja tanta, que precise da liberdade de um infinito de palavras com quem conversar, hoje tem um blog à disposição. E adiante seguem inúmeros exemplos.

O cerne da questão que me vem escrever é justamente o inusitado que é perceber o crescimento do hábito de ler e escrever através de blogs, numa geração que foi - e é - tão taxada de preguiçosa para estas duas boas tarefas. Acadêmicos viram nesses espaços um universo de possibilidade de exposição de idéias. Blogs de humor e de curiosidades hoje são as vedetes desse universo, e servem como escracho de tudo e todos, sem dó, nem piedade.

Presenciar essa revolução de hábitos na internet - e participar dela - é, no mínimo, digno de emitir opinião. E a minha é que, quebradas as barreiras limitadoras de uma postura antipática da leitura tão inimiga do mundo virtual, deve-se nesse momento lutar pela qualidade do que se faz, do que se exibe, do que se escreve, do que se lê.
Não se trata de uma crítica à ignorância ou uma espécie de auto-denominação de padrão de qualidade, mas, com a difusão de idéias - e de liberdade de formatos - há um cuidado a ser tomado com que se toma como verdade. Um blog de notícias descomprometido com a realidade pode iludir e difundir mentiras. Um mal-intencionado pode disseminar idéias nazistas, elaborar assassinatos - como já aconteceu e certamente acontece, e pessoas têm acesso fácil e facilitado para isso. Blogs e sites de conteúdo pornográfico estão à mercê da visita de crianças!! E, em tempos nos quais pais se encontram cada vez mais distantes, e a infância disfarçadamente 'adultecida' é preocupante. Enfim. Junto com cada avanço, vêm os problemas, os excessos e os males.

E cabe a nós, usuários dessa ferramenta, almejar o dia em que a consciência seja aliada de toda boa ferramenta de comunicação. Não há como impedir a criação de agressões em forma de blog. Mas há como os servidores apagá-los. Não há como eliminar os destruidores de toda boa construção. Mas há como os afastá-los de nosso convívio. Sigamos na contra-corrente dos rótulos definidores de uma geração preguiçosa. Continuemos nos expressando. Continuemos livres para falar, dizer, conversar, comentar. Mas sejamos vigilantes da qualidade. Por mais que nossa qualidade seja, para muitos, muita porcaria.