segunda-feira, novembro 28, 2011

Dois dias


Já havia visto despedidas. Lamentei por elas, como se minhas fossem, sem sequer imaginar que um último abraço pudesse doer tanto. Desconsolada Consolação, palco da saudade que ali nascera, selando os nossos dois dias. De tão desconsertado, inundado por dor e lástima, nem lembrei de ficar te observando partir. Quando você olhou pra trás, não me viu. Eu estava há poucos metros dali, subindo escadas, ocupado com soluços. Além da memória, restam-me fotos, uma camisa e um perfume quase no fim. Ainda lembranças, um dia nosso relicário. Faz tão pouco tempo, e já data uma eternidade. Nunca imaginei que uma angústia verdadeira ampliasse tanto as coisas. Planos acabam sendo alívios passageiros, confortantes apenas quando pairam no ambiente dos sonhos. A realidade os nubla à medida em que a vida segue turbulenta seu rumo, enquanto tentamos bravamente alinhar os barcos à distância. Esse esforço não deve acabar de pronto, até que algum desses projetos possa nos presentar com mais alguns dias. Logo nós, que temos um número no calendário nosso, só nosso, estamos tão escravos do tempo. Por enquanto. Pois a meta é o encontro, imagem que suplantará todas as despedidas que tivermos antes. Um novo abraço, que significará início. Seu peito como meu travesseiro é o destino que escolhi pra mim. Por muito mais que dois dias.



sábado, novembro 12, 2011

Questão de tempo














Janelas de lágrimas.
Meias incômodas.
Calafrios na nuca.
Joelhos molhados.
Pingos no queixo.
Vidro embaçado.
Roupa úmida.
Colinas de guarda-chuva.
Alma e dedos engelhados.
Inferno congelante da calçada.
Fria distância de casa.

Lodo, poça, vento, tempo.

Enfim, você e o quarto.
Como mágica, já está sol novamente.