quarta-feira, novembro 14, 2007

Zoo


Há muito tempo, Gonzaga, o gorila libertino, como era conhecido em todo o zoológico, já não possuía a alegria de viver dos áureos tempo do Zoo. Já não suportava mais a convivência da vizinhança. Kate, a macaquinha levada, com os anos já nem era tão faceira. Os macacos pregos, Simão e Margarida, também já nem conversavam mais com ele, pois, sendo de gerações diferentes, só queriam saber de novas bananas transgênicas. As tão doces bananas nanicas, já desgostavam. Até seu grande brother-macaco Zeca, o chimpanzé, de uns tempos para cá, por estar velho demais, adquiriu novos hábitos introspectivos e mal saía de seu aposento, e quando o fazia, era para pedir silêncio.

Restava ao velho Gonzaga, o gorila mais libertino de todos os tempos, menos alegria ao arremeçar fezes na platéia. Suas caretas já nem o impressionavam mais, e podia jurar que também não impressionavam mais o público. Vez ou outra, Gonzaga se pegava suspirando pelos tempos passados, em que araras soltas das florestas que circundavam o Zoo vinham bicar bananas podres, e batiam aquele papo inter-classes...Foram-se os dias em que seu tratador o mimava com bananeiras de plástico, ou calças maneiras bordadas com o seu nome na traseira. Foram-se.

Agora o Zoo era um deserto de celas, nas quais seus moradores nada mais eram do que espectros do que foram um dia. As aves deveriam ter menos penas; os hipopótamos, achava até que já tinham morrido; nem o Leão dava mais os urros que vez ou outra se dava para ouvir. Camelos e lhamas já nem eram mais vistos nas cercas mais adiante. Os répteis, disseram, eram escassos, como a vegetação de hoje em dia. Mal lhe chegavam fofocas...

Haja saudades dos tempos em que o Zoo um dia era referência para os domingos daquela cidade! Não via mais crianças com bolas coloridas, como era antes. Os pedalinhos, se ainda existissem, enferrujariam por falta de uso. O cheiro fétido do lago em que eles ficavam chegava-lhe agora mais podre do que nunca. Era o esgoto do Zoo. E Gonzaga sentia-se parte desse esgoto.

Já não sentia mais vontade de comer. Já nem sequer limpavam sua sujeira. A depressão lhe tomara por completo. Os murros que antes dava no peito, eram agora nas paredes. Os urros, que antes levavam exibicionismo e saúde aos visitantes, hoje nada mais eram que muxoxos de insatisfação. Gonzaga, o gorila libertino, não via mais seu pedaço de liberdade dentro das grades que o continham. E, assim, numa noite dentro do inferno de seu 'paraíso' particular, Gonzaga se foi, com as mãos nas grades, em súplica. Com os olhos nos céus, em questionamento. Com o coraçao no chão, em tristeza. Com a alma, aos pulos, nalgum outro lugar, em felicidade. De libertino a libertado.

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