domingo, julho 08, 2007

Silêncio!


Sim.
É a falta de luz que traz tantos excessos. Sempre que me pego sozinho em meu cego e não-surdo silêncio escuto vozes que dizem mais do que qualquer som. Uma espécie de esquizofrenia da solidão, largada no abismo imaginário de uma mente sórdida. Acompanhado pela escuridão da espera do sono, maquino sobre tudo o que deveria ter acontecido e não foi, sobre tudo que aconteceu e foi e sobre tudo o que acontecerá e poderá ou não ser. Realizo um balanço das arbitrariedaes passadas em branco, dos erros propositais, dos acertos contra-vontade, das atitudes inevitáveis. Preciso prestar contas a meu famigerado ego deveras exigente.

E é justamente nesse momento em que ele fala comigo. O silêncio é o mais tagarela de todos os sons. Seria ensurdecedor se todos pudessem ouví-lo. Brada aos meus ouvidos em todos os tons, em todas as notas, entoando todas as combinações de tudo que me aconteceu. O silêncio é a cadeia certa, é o testamento revelador, é onde tudo se esclarece. Ele lhe revela tudo que você mais gosta de esconder e espalha pelo quarto todas as sensações que o perturbaram durante o dia, provocando angústias, confirmando alívios, mensurando sentimentos.

Enfim silêncio. O clímax de sua própria auto-consolação. É o seu momento consigo mesmo. O verdadeiro reflexo dos últimos momentos; repetem-se repetidamente vários repetecos, como um filme desorientado. Sua interpretação da vida rebate incessantemente na redoma criada pelo limitador silêncio sem limites. Portanto, seja ele tal qual se mostra ou tal qual se sinta, me faz melhor pensá-lo com o mais de conteúdo, que com o menos de ausência. Pois é quando tudo está tranqüilo que rompem os tambores tagarelas do silêncio mal-criado dessa poderosa consciência. Não?


***


"Porque o silêncio não tem substância; ele é vazio como grande redoma de vidro, e o que vive nele é a última palavra e o último gesto." (Rubem Braga)

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