quarta-feira, novembro 22, 2006

Primeiro Ato


Abro alas neste espaço para uma reflexão um tanto quanto pessoal sobre um assunto que a mim me agrada analisar: a natureza humana. Logicamente, este é um assunto capaz de render mais do que meros textos publicados. Nem uma biblioteca repleta de volumes minuciosamente elaborados para transmitir algo equivalente à miscelânea de cores do que vem a ser natureza humana é capaz de atingir tal objetivo. É humanamente impossível um ser humano chegar a tais e tantos detalhes elucidativos. Assim sendo, restringirei-me a focar numa das imperfeições que constróem este quadro surrealista que formamos. Falarei do erro. Para muitos, algo inevitável. Para outros, inerente. Muitos ainda dizem ser um degrau para certa evolução. Porém, mais do que tentar definir tal realidade, mais do que tentar estudar a influência que um erro pode causar em nossas vidas, e de que forma tal erro ajuda a compor a imagem do que somos ou do que parecemos ser, convém lembrar que estamos a falar de algo extremamente subjetivo. Trata-se de algo misturado a valores pré-determinados. Mas, diante do que a moral implícita em nossa sociedade nos ensina, é possível chegar-se a consensos sobre o que é um erro. Nada impede que surjam divergências interpretativas a respeito, mas pode-se, diante de um julgamento de valor coletivo, dizer o que é certo para esta coletividade. E o que é errado. Nem tudo que é errado é proibido. Mas todo erro é mal-quisto. Muitas vezes o erro proporciona o aprendizado necessário para um fim de correição. Mas em grande parte das vezes, e é esse tipo de atitude que venho especificamente falar, um erro pode ser irremediável a tal ponto, que relacionam-se os motivos pelos quais tal falha foi cometida à ausência de providencial talento de acertar. Pois bem. Um erro mecânico reflete-se na possibilidade de repetir outro movimento em busca da perfeição. Um erro estilístico propicia uma maior meticulosidade e clareza na forma de se comunicar. Um erro estatístico pode provocar uma certa confusão sobre a verdadeira situação de tal grandeza, mas um refazimento de cálculos muitas vezes mostra novas fórmulas matemáticas. Já um erro de atitude é também vexatório para o ser errante, mas não ao ponto de impedí-lo de agir de forma mais acertada no futuro. Logo, igualmente remediável. Talvez o único erro que não possua conserto é aquele proveniente de uma falha oriunda de uma realidade já distante. Certamente não há remédios para os erros de caráter. Afinal, os maus valores pessoais de alguém são adquiridos através do acúmulo de experiências aliado à gênese do temperamento deste. E esses se arraigam de tal forma, que são indesvinculáveis do ser que erra ao externá-los. Portanto, um erro de caráter é reflexo de alguém provavelmente inescrupuloso, ardil e inacabado. Tendo em vista esta análise, os mais desavisados muito costumam confundir os dois últimos erros citados. Erros de atitude e erros de caráter. Quase todos os erros de caráter manifestam-se através de erros de atitudes. Porém, nem todos os erros de atitudes vêm a ser erros de caráter. Mesmo assim, a natureza humana, generalizatória como se mostra, teima em macular certas atitudes isoladas como fossos de caráter e reputação. Exigir tal discernimento do alvo do erro talvez seja até um pouco demais, porém aqueles que se encontram em posição imparcial ao feito deveriam aprender melhor a dissociar atos falhos de má-natureza. Assim sendo, por mais que a natureza humana se revele mais profunda a cada desvendar, devemos seguir a creditar nossos maiores acertos na reflexão do que somos capazes, tentando sempre antever as reais conseqüências de nossos atos, mensurando o quanto somos capazes de se importar e meditando acerca das necessidades que possuímos de se consertar. Sempre chego à conclusão de que a conscientização de nossas características mais latentes é o primeiro passo para nos entendermos melhor, tanto a si próprios, quanto uns aos outros. E esse entendimento se perfaz em meio a percalços tais, que a hipótese de erros de atitude perde em importância para a consciência de que estes podem jamais arranhar a nobreza de alguém que exercite seu papel. Por mais que este papel de desenrole através de atos falhos, na verdade ele sempre busca o reconhecimento da platéia para a qual se exibe. Por mais que o drama que desenvolva ofusque a possibilidade do público rir no final, este papel é um mero fantoche diante do que somos e do que somos capazes. A grande questão reside no quanto a distância entre estas duas grandezas pode influenciar na peça inteira. À medida em que se limita a capacidade à natureza do "ser", reduz-se tais confusões. Contudo, muitas vezes ela escapa aos limites, aventurando-se no que simplificadamente chamamos de erros de atitude. E novamente mostramos nossa verdadeira essência indecifrável, nossa natureza nada menos que inexplicável.

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