terça-feira, novembro 07, 2006

Atrás da cortina de fumaça


Quando a gente faz fumaça, tudo embaça. Com aflição, o fogo ameaça se espalhar pelos outros cômodos, você se desespera por alguns segundos, imagina por poucos e curtos e longos momentos sua face desmanchando em pele e carvão. Mas nada se queima além do que se quer queimar. Aos poucos, as cinzas flutuantes se descolam das lentes dos óculos, as tosses mais fortes expelem qualquer resto de fuligem que tenha se enxerido pelas vias respiratórias. Paulatinamente, a vista desembaça, o cabelo se (des) arruma em pó. Restam os dedos negros cheirando a papel queimado e tudo que se quer é um banho de água fria. Enfim, a poeira desanuvia, e a gente passa a enxergar um mundo novo. Um mundo coberto de fuligem velha precisa ser olhado através de um olhar diferente. Um espaço diferente requer um maneira diferente de tratamento. Não se pisa num chão branco de limpo do mesmo modo que um chão podre de sujo. E é assim que os dias me vêm sendo apresentados. De forma diferente. O que era antes claro, hoje me põe dúvidas. E o que anteriormente eu desconhecia, hoje já nem consigo discordar da existência. Graças às fogueiras acesas. E às chamas luminosas, que causaram novas formas de olhar. Novos olhares. Muita poeira pra limpar, mas novos olhares.

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