sábado, abril 02, 2011

Farpas



Toda farpa incomoda. Mesmo que não doa, resta a cicatriz para lembrar-lhe de algum momento de dor. São objetos não-identificados, cravados em alguma parte da alma ou corpo, a latejar a memória de um passo mal dado, ou de uma frase mal dita. Cada um resolve como lidar com elas a seu jeito: uns esperam o próprio corpo expelir o intruso, ou partem mesmo para um procedimento "cirúrgico"; outros dão tempo ao tempo para que a cura venha a conta-gotas, ou até atiram outras farpas, para ajudar a aliviar o impacto da sua própria. Não importa como se maneje a sua existência, o objetivo da farpa é se fazer notar. E uma vez lá dentro, não há como se livrar do incômodo de ter sido ferido, sem que seja bolada uma grande operação de pinças ou conversas.

A experiência vai construindo a carapaça contra as farpas, a resistência é a intenção. Com um tempo, o que no passado seria uma farpa mortal, hoje pode ser um mero sopro de vento. É de nossa natureza cultivar essas proteções, determinantes para lidar com as intromissões. Afinal, a fortaleza não reside na maneira como se lida com a dor, mas no modo como a se percebe, já que a grande maioria das farpas que nos atingem erram o alvo sem que nos demos conta. O problema é a supervalorização das que furam a segurança.

O importante é a percepção de que, no fim, farpa é apenas e exatamente o que o nome quer dizer, um "rasgão". É você quem determina se ele tem capacidade de se tornar uma cicatriz temporária, ou uma facada. Você que escolhe entre a lição e o desespero.







2 comentários:

bruniuhhh disse...

cada um escolhe a dor q tem

Mazes disse...

Pensamento bem construido... Muito bom!