segunda-feira, junho 02, 2008

Toda alma é meio gente


Toda alma é meio besta, meio tapada, natural. Toda ela é boçal, medrosa das perdas e saudosa dos ganhos que ainda não teve. Toda alma é quase tudo, pois cada dono possui um absurdo e vasto mundo fervendo na panela. É retrato do retrato do mosaico mais elaborado, como gente dividida e junta tudo reunida. Toda alma é meio lençol de cama quando ficam as marcas de quem ama. Toda ela é meio susto da verdade de existir, é meio medo do escuro de esconder. É meio revelação dos desejos mais criminosos, libidinosos e nossos. Toda alma é meio careta, um tanto quanto afeita à resistência de tudo que vem de novo. Toda ela é meio pra cima, quase pro meio, um tanto pra baixo, a julgar o humor. Dependendo do amor. Do que dói. Ou do que destrói, sem licença, sem desculpa, e sem ‘por favor’. Toda alma é toda etérea, meio fumaça, quase eterna, um tanto desgraça. Uma parte é do mundo de lá, outra do de cá, as duas dos dois e nenhuma sofre à toa. Nem todas boas, algumas más, todas erram, outras acertam, várias delas consertam. Nenhuma fica pra trás, todas vão adiante; toda ela é tão errante quanto o corpo que as abriga. Toda alma é suja de alguma mancha que ficou, e quase nenhuma não leva no dorso mágoa ou rancor. Toda alma é paciente, seja no sul ou ocidente, seja no norte ou oriente, qualquer lugar pra que se aponte. É tudo igual e diferente, tanto de lado, quanto ao avesso ou de frente.

Toda alma é meio gente brincando de ser inconseqüente.


* imagem por João Lobo

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