domingo, novembro 08, 2009
Sobras de Arte
Para quedas, um bom salto e um buraco no meio do asfalto
Para-quedas: um bom salto não faz um buraco no meio do asfalto.
terça-feira, outubro 13, 2009
Bodas de Crisoprásio

domingo, outubro 11, 2009
sexta-feira, setembro 25, 2009
Maria Eduarda

Maroca nunca gostou das fitinhas na sua cabeça, do seu vestido rosa, dos seus sapatinhos comportados. Sua mãe queria que ela quisesse querer ir pro balé, pras lojas de roupa, pra casa das tias brincar com as primas. E ela ia, sem querer. Fingia uma introspecção para não denunciar sua tristeza. Passavam-se os anos, Maroca seguia com muitas fortes cores, poucas palavras e nos passos da mãe. Perdia horas entre os cheiros de cabelo queimado do salão de beleza, dentro da personagem tímida que aprendera a encenar. Todos os seus horários lhe eram determinados, nunca discutidos. À mesa, tudo o que mais odiava. No quarto, pufes, almofadões, cortinas, babados, espelhos, tudo meigo. O pai, sempre ausente, a tinha apenas como uma boneca exposta na estante do quarto, a princesinha do papai, linda e perfeita. Um anjo domado.
Dia desses Maroca foi ao shopping com as amigas arranjadas. Na intenção de tomar um sorvete, se distanciou das demais. Perdeu-se. Nunca se soube se fugiram dela. E, percebendo-se sozinha, danou-se a andar sem rumo. Riu-se abestalhadamente, correu alegre pelos corredores, olhar louco sem rédeas, em direção à porta. Maroca saiu no sol sem protetor, descabelou-se, atirou longe a bolsa, descalçou-se, seguiu sem rumo. Seus pés finos queimavam no asfalto quente de fim de tarde, apontando em direção ao mar azul lá longe. Chegando, a fôlego e suor, na areia, pôs-se a rodar, qual bailarina sem ritmo, braços abertos ao vento, desenhando riscos de vento na praia. Quem olhava de longe, não entendia. Se alguém olhasse de perto, entenderia menos. Deixou-se cair na areia, sob o sol arroxeado que anunciava a noite, e aquietou-se, esparramada naquele momento só seu.
Maroca voltou temerosa pra casa. E, não obstante os questionamentos, os choros, as discussões, as acusações, a polícia e o castigo, ela estava satisfeita, sonhando com a dose de liberdade experimentada. E planejando ousar novas experiências. Quem sabe escaparia para a livraria da esquina algum dia. De volta às grades, Maroca, agarrada aos limites de sua janela, planejava usar até o próprio nome. No primeiro descuido, Maria Eduarda fugiria em direção ao seu mundo.
Desarrumando

quarta-feira, setembro 23, 2009
Saia

Sombra dançando entre as mesas
saia girando no vento do cais
sandálias pintando o cinza do asfalto
colares de contas pendendo pra trás
Beleza modesta pra editoriais
embora o encanto fosse exuberante
flutuando entre os olhos hipnotizados
daqueles que vinham mais adiante
Toda festa só graça
sorriso que nem precisava de cor
nas pernas pintadas com tintas diversas
os códigos escritos do muito que amou
Mãos no compasso do ritmo pesado
que toca na esquina, no passo de alguém
molejo nervoso e cadenciado
seguro das voltas, mil voltas que vêm
Mas leva tristezas pra lá de escondidas
na viva pintura das estampas coloridas
E só quem mais tarde a vê despida
Percebe o quanto ardem suas feridas.
quinta-feira, setembro 17, 2009
Gaste
ô dor
O som
Tanta displicência
sábado, setembro 12, 2009
terça-feira, junho 09, 2009
A gente nunca sabe

sábado, junho 06, 2009
sexta-feira, abril 03, 2009
Pelo escuro dos olhos teus

Quando a sombra dos olhos meus
e a escuridão dos olhos teus
resolvem se encontrar,
ai, que ruim que isso é,
meu Deus,
que angústia que me dá
o assombro desse par.
E, se a sombra dos olhos meus
reside na escuridão dos seus
só pra me assustar,
meu amor, juro por Deus,
me sinto congelar.
Meu amor, juro por Deus,
que a sombra dos olhos meus já não pode durar.
Quero a sombra dos olhos meus
longe do escuro que seu olho dá.
Pela escuridão dos olhos teus,
eu acho, meu amor,
e só se pode achar,
que a sombra dos olhos meus
precisa acabar.
sexta-feira, março 27, 2009
A volta
Entretanto, um blogueiro nada mais é do que um informal, pactuado em compromisso ou não com sua platéia. O ato de postar para ele é um diálogo, uma puxada de conversa, uma cutucada. O seu silêncio, por outro lado, é seu descanso, sua ausência e seu tempo.
Receio que há entre mim e esta página em branco uma simpatia imensa, porém, capaz de, por vezes, ceder passagem ao receio de preenchê-la de palavras forçosas. E é este sentimento que me faz criar esses espaços vazios, essas pausas e hiatos por 'tempo indeterminado'. Talvez seja meu próprio senso de expressão limitado teimando em não se pronunciar.Talvez seja uma mera falta de assunto.
Mas é esse período ausente o que me permite dizer que cada palavra aqui é sinônimo de vontade. E se ela aqui está, não é por rotina, obrigação ou programação. Ela vem desprogamada, sentida, desejada e despojada.
Está aberta a nova temporada de intenção.