segunda-feira, julho 16, 2007

O assunto é esporte







É como se diz. Ganhar é bom. Ganhar em cima da Argentina, é bom demais!! Finalmente, posso vir falar bem - e muito bem - de futebol, esporte com que não tenho intimidade, mas não deixo de sofrer todas as emoções que um brasileiro é capaz de ter. Mais ou menos há um ano atrás, afirmei que minha bandeira estava vermelha de vergonha, porém, nada melhor como um ano atrás do outro, para o orgulho deixar-se transparecer.


A seleção de futebol não apenas venceu medalha, troféu e dinheiro. Não só apenas levou o bicampeonato da Copa América. Não somente classificou-se para a Copa das Confederações. Estas são meras conseqüências. O que mais me orgulho é a forma com que venceu! O jogo bonito, raçudo, confiante e certeiro que desfilou em campo. Não se via apatia, nada de jogo entregue, jogadas argentinas cortadas no meio-de-campo, bendita trave, bela defesa...Tudo conspirava a favor! Argentinos corriam de um lado a outro, num tango ensaiado, consciente e poderoso, mas ineficiente frente ao poderio do samba no pé dos jogadores brasileiros. Lançamento milimétrico de Delano, ajuda providencial de Ayala e passe profissional de Vágner Love desenharam o chocolate brasileiro aos nossos hermanos. Bela vitória!! Belo jogo!! Assim que se faz: gana, força e energia para fazer jus a uma camisa rica em história!!


E não apenas o futebol nos orgulhou nesse domingo. É Panamericano!!! Não esqueçamos que no sábado o handebol feminino entregou mais uma goleada, desta vez para as canadenes, firme na luta para o ponto mais alto do pódio. Diogo Silva se fez líder no taekwondo, emocionando a todos numa das mais belas imagens do Panamericano do Rio. Nosso time de vôlei masculino, sublinhou sua força de mestres no esporte, galgando mais um título da Liga Mundial de Vôlei, o sétimo, apenas um a menos que os grandes italianos. Ah! Não esqueçamos do time juvenil de Vôlei, que sobre a mesma Rússia, levou o Título Mundial! E, como se não bastasse, uma menina de origem humilde do Rio, Bárbara Leoncio, de apenas 15 anos, conquistou a medalha de ouro, com o melhor tempo de sua vida, nos 200 metros rasos do Mundial de Atletismo.


É de encher de orgulho qualquer peito verde-e-amarelo. Podem paracer conquistas tímidas frente a qualquer nível de primeiro patamar, podem soar como raros os momentos de glória dourada de nosso esporte. Mas é dessa forma, e através de nosso reconhecimento, que podemos continuar vencendo, nos tornando, um dia quem sabe, uma potência olímpica de fazer tremer os adversários. Como em quase todos os setores sociais em nosso País, o esporte não possui o investimento necessário, cabendo-lhe incentivos privados, projetos sociais comunitários e pouca quase nada cultura esportiva de atividade transformadora. Muito a melhorar!! Muito!!!


Mas a certeza de que somos reconhecidos, além de por nossa condição de aprendizes em diversas modalidades, pela garra e pela vontade incontestável de entrar para vencer. No Panamericano, estou certo de que muitos dias como o de domingo hão de vir. E muitas vitórias mais, para fazer-nos alavancar no ainda apagado quadro geral de medalhas. Temos natação (Rebeca Gusmão!), ginástica individual, atletismo, finais de vôlei e handebol, muito, muito por vir. E com toda essa esperança, uma torcida sem fim, para realçar os tons de nossas bandeiras e para inflar-nos os peitos orgulhosos.

quarta-feira, julho 11, 2007

Eu sou mais Potter


Hoje tive a prova concreta do fanatismo deprimente. Do exagero em forma de desperdício de energia. Do exibicionismo. Da euforia desmedida na forma de quem grita mais alto. De quem conhece mais detalhes irrelevantes. De quem exalta mais o menos exaltante.

Ontem fui à estréia de Harry Potter - A Ordem da Fênix, e, o que à primeira vista, me parecia ser um espetáculo de comédia, tornou-se um espetáculo de horror!!! Não me refiro à angústia de ver seu ídolo da literatura pelo seu ídolo adotado no cinema. Não me refiro ao fato de afissurar-se numa Obra fissurante. Não me refiro à idolatria do estilo juvenil e descompromissado de J. K. Rowling contar a história do mago mais famoso da atualidade. Nada disso. Refiro-me às desmesuras causadas por tudo isso. Ir ao cinema travestido de estudante de Hogwarts, de posse de chapéu e varinha mágica seria mais hilário, se não fosse tão exagerado. Até aí, é uma opinião própria, nada demais...Sinta-se à vontade para fantasiar-se do que quiser...Talvez um fã de Gretchen sinta-se muito à vontade de vestir-se de tigresa na estréia de seu novo filme pornô... Problema de quem gosta de se montar...

Mas daí a chegar ao orgasmo a cada piscar de olhos do ator, a cada novo close, a cada novo apresentar de personagem, é demais para a minha cansada compreensão...Como se não bastasse a exposição ao ridículo - que só muito amor desperdiçado pode causar -, pior é quando todos esses exageros estupram os direitos de quem é fã simplesmente de uma forma mais comedida. Tudo bem que fui a uma sessão especial, a primeira, de madrugada, em que praticamente só foram fãs...Mas isso não me tira o direito de não me atrapalharem as sirenes roucas dos gritos das mal-educadas infanto-juvenis que se sentaram na fileira atrás de mim!! Junto com o ingresso comprado, mal sabia eu que junto adquiria narradoras-comentaristas de todos os detalhes mais irrelevantes que se possa imaginar. Ah, se arrependimento matasse... E, para piorar, ao exigir ter o meu direito de sanidade auditiva resguardado, obtive como resposta uma negativa, um ignorar ainda mais mal-educado, porque veio acompanhado de um palavrão.

Que fanatismo é esse que o faz desprezar o incômodo alheio, de egoisticamente se importar apenas com sua demonstração babaca exibicionista?? Que falta de medidas são essas causadas por uma idolatria que beira à insanidade, ao bom senso e à criticidade?? Talvez a resposta mais óbvia resida mesmo na imaturidade, na falta de uma educação caseira mais apropriada, aquela que equilibra impulsos com bons modos... Bons modos... Muitos daqueles fanáticos estão longe de reconhecer o sentido dessa expressão tão simples...

No fim, os momentos que me foram possíveis aproveitar me fizeram concluir que se trata de um ótimo filme mediano, repleto de bons momentos visuais, porém carente da profundidade necessária para ser inesquecível. Junto com essa impressão, somam-se ao saldo positivo da noite as boas companhias e o fato de ter mais uma lição aprendida. Estréia de filme de Harry Potter, jamais.

Dizem que se reconhece uma boa obra pelo público que ela cativa. Temo em perceber que há uma relativa discrepância entre às figuras com as quais ontem cruzei e a série do bom e jovem Potter. Trata-se de um raro exemplo em que a Obra se mostra muito maior do que grande parte do público que a consome. Geralmente isso se coaduna. Este definitivamente não é o caso. Eu sou mais Potter.

terça-feira, julho 10, 2007

Tudo em cinza


Acordou com hálito de rotina. Pôs os pés ainda quentes do calor das cobertas no chão frio e sentiu arrepios subirem-lhe a espinha. O sono enchia seu quarto de preguiça, tornando a dúvida de uma nova tentativa de suicício numa arriscada certeza. Não. Não devia. Levantou-se da cama como um bebê da barriga da mãe: enrugado, choroso e extremamente sensível. Sensibilidade posta à prova quando deixou para trás seu dedo mindinho agarrado na porta enquanto o resto do seu corpo seguia em frente. A dor terrível não só serviu para acordar cada célula sua, quanto para provar-lhe que vida ainda brotava ali. Desperado, imerso em pontadas de dor, agarrou-se à porta do guarda-roupas, lágrimas escorrendo pela face, enquanto despencava o suporte onde ficavam seus pertences pessoais, por conta dos freqüentes solavancos que dava nos móveis, em virtude da imensa dor que sentia. Perfumes, loções, remédios e outros objetos higiênicos no chão. O cheiro de essências acusava perdas materiais em forma de perfume. "Nem pensar"...-pensava- "Da bagunça cuido depois...Tomarei meu banho, pois preciso me sentir novo...!!"

Assim, em busca da novidade, velha lição. Seguiu ainda cambaleante, mancando e coçando o lado direito do traseiro em direção ao banheiro, conferindo todos os mais impublicáveis impropérios ao inventor do relógio, da porta e dos suportes fajutos. Tirou a cueca como uma múmia se livraria de quilômetros de faixas e seguiu ainda tropegando para debaixo do chuveiro, resfolegando latejar de dedo e vontade de sentir a água quente inebriar-lhe a pele com seu toque massageante. Nada disso. Ao ligar o chuveiro, toneladas de cubos de gelo atiraram-se à sua cabeça, resfirando-lhe instantaneamente seus fios de cabelo, lóbulos da orelha e pêlos das axilas. Sentiu os filetes congelados percorrerem-lhe as costelas num caminho tortuoso de tortura, ao mesmo tempo em que fugia desse alvo polar. Quem diabos havia mudado a temperatura da água??? Agora lembrava...Ele mesmo, na noite anterior, morto de calor por ter ficado trinta minutos preso no elevador, mudara o estado do chuveiro elétrico. E agora amaldiçoava sua própria má sorte, perguntando às almas que lhe rogavam tais pragas a razão de todos esses infortúnios reunidos num só alvo.

Seguiu adiante seu desejoso banho matinal, antes se certificando de atentamente ter mudado para o estado 'inverno' , amparando a água com as mãos em concha, esperando o vapor que subia acusar seu objetivo. Mergulhou nas águas termais como um porco na lama e pôs-se a refestelar no prazer de sentir talvegues mornos passearem pelo leito de sua pele, fazendo mais e mais espuma com o sabonete... Sentiu inclusive vontade de assoviar, numa tentativa de fazer as pazes com os demônios rogadores de praga...Porém, quando estava prestes a entoar a primeira nota de seu humilde assovio de paz, a água foi esquentando rapidamente, num conseqüente anúncio de que se esvaia. Nada de água. Fim da cachoeira quente do prazer! Restava-lhe o frio do vento gelado sobre a sua pele em brasas e a vontade cruel de suicidar-se no interruptor da bomba de água que teria de ligar para voltar ao banho. Desistiu do suicídio, mas foi, dolorosamente, ligar a tal bomba.

Nada iria minar-lhe as esperanças de um momento feliz no dia. Nada!! Nem sequer aquela casa amaldiçoada, aquela vida amaldiçoada, aqueles...aqueles...aqueles... Enquanto seguia, enrolado na toalha e preso em seus pensamentos esperançosos de felicidade, uma imagem o paralisara. Parado à porta de seu quarto, toalha envolta nos quadris como uma saia fora de moda, restos de espuma na testa e orelha, parecia uma estátua em homenagem a algum ilustre frequentador de sauna, braços arqueados e pernas abertas numa pose caricata. Porém, um semblante consternado, à beira do terror, fruto da visão do inferno, empreendia à cena o drama necessário. Jogado em meio às lonções e perfumes quebrados, seu cachorro jazia deitado, respiração fraca, arrotando "Azarrô"... Os últimos momentos do cão morto envenenado com o perfume do próprio dono davam o toque fúnebre necessário ao estado de calamidade privada que nosso herói se encontrava. Perguntava-se a explicação de todas aquelas desgraças!!

Jurava a si próprio que era uma boa pessoa, sempre solícito e amigo fiel em todos os momentos, não se lembrava sequer de furtos de chocolates nas Lojas Americanas ou ao dízimo da Igreja, nada!! Sabia que vivera até aquele ponto sob a égide do princípio maior de semear bondade e caridade, que tinha como prerrogativa de caráter o altruísmo !! Como poderia a vida conceder-lhe tais respostas, numa espécie de tragédias cômicas recheadas de humor negro travestido de dedo em sangue, calafrios e cachorro morto?? Era essa a recompensa de uma vida pautada por boas ações e dignidade??

A ele cabia esperar, cultivar a paciência assim como as suas plantas (que morriam mais freqüentemente nos últimos tempos), sem incidir na fraqueza da desistência!! Desse modo, ergueu-se do chão, nu, pois a toalha deixada largada no chão do corredor, tremendo não sabia se de frio ou de raiva de si mesmo, galgando as prateleiras em busca de escora, sentando no colchão para a reflexão final. Sabia que tinha muito a fazer por si e pelo mundo, e que não seriam tais sinais do inferno que o tornariam um ser menor. Não seria a fraqueza a tomar-lhe o espírito! Mostraria a estas pragas que ele era maior que tudo isso, que iria vencer os obstáculos, que possuía natureza de vencedor!!! Levantou, dando o primeiro passo do ser vitorioso que se tornaria a partir daquele instante. Imbuído de segurança, caminhou numa marcha por toda a casa, reflexos no espelho traduzíam um renascimento nunca antes visto naquelas paredes. A coragem bradava de seu peito, inflado na certeza de que tudo seria diferente.

Foi quando a bomba de água que havia ligado explodiu em farpas de fogo, fiação elétrica despedaçada e curto-circuito, alastrando rapidamente fogo por toda a área de serviço de sua casa. Não creditava no que ouvia, no estrondo, no cheiro que sentia, os fios queimados entravam em seu cérebros em ondas olfativas que denunciavam a inevitabilidade de sua fraqueza. Estalos da máquina de lavar sendo cozida, tábua de passar roupa tostada e águas sanitárias alimentado as labaredas. Todo esse espetáculo pirotécnico o impedia de esperar que o extintor de incêncio funcionasse, após tudo que acontecera. Seria demais.

Então,depois disso, começou a achar convidativa a idéia de virar cinzas junto com seus pertences. Assim como cinza havia se tornado a sua vida.

domingo, julho 08, 2007

Silêncio!


Sim.
É a falta de luz que traz tantos excessos. Sempre que me pego sozinho em meu cego e não-surdo silêncio escuto vozes que dizem mais do que qualquer som. Uma espécie de esquizofrenia da solidão, largada no abismo imaginário de uma mente sórdida. Acompanhado pela escuridão da espera do sono, maquino sobre tudo o que deveria ter acontecido e não foi, sobre tudo que aconteceu e foi e sobre tudo o que acontecerá e poderá ou não ser. Realizo um balanço das arbitrariedaes passadas em branco, dos erros propositais, dos acertos contra-vontade, das atitudes inevitáveis. Preciso prestar contas a meu famigerado ego deveras exigente.

E é justamente nesse momento em que ele fala comigo. O silêncio é o mais tagarela de todos os sons. Seria ensurdecedor se todos pudessem ouví-lo. Brada aos meus ouvidos em todos os tons, em todas as notas, entoando todas as combinações de tudo que me aconteceu. O silêncio é a cadeia certa, é o testamento revelador, é onde tudo se esclarece. Ele lhe revela tudo que você mais gosta de esconder e espalha pelo quarto todas as sensações que o perturbaram durante o dia, provocando angústias, confirmando alívios, mensurando sentimentos.

Enfim silêncio. O clímax de sua própria auto-consolação. É o seu momento consigo mesmo. O verdadeiro reflexo dos últimos momentos; repetem-se repetidamente vários repetecos, como um filme desorientado. Sua interpretação da vida rebate incessantemente na redoma criada pelo limitador silêncio sem limites. Portanto, seja ele tal qual se mostra ou tal qual se sinta, me faz melhor pensá-lo com o mais de conteúdo, que com o menos de ausência. Pois é quando tudo está tranqüilo que rompem os tambores tagarelas do silêncio mal-criado dessa poderosa consciência. Não?


***


"Porque o silêncio não tem substância; ele é vazio como grande redoma de vidro, e o que vive nele é a última palavra e o último gesto." (Rubem Braga)

segunda-feira, julho 02, 2007

Marginais em formação


É sabido de todos. Cinco marginais de classe média, moradores da Barra da Tijuca, roubaram e espancaram a empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, de 32 anos, enquanto esta aguardava o transporte coletivo, há mais ou menos uma semana. Os criminosos alegaram confundir a agredida com uma prostituta, justificando, dessa forma, a violência do ato cometido.

Ato indubitavelmente reprovável, justificativa risível e mesquinha. No mês passado escrevi sobre o filme "Baixio das Bestas", o qual versa sobre a exploração da mulher na realidade canavieira do interior pernambucano. Os jovens retratados naquele filme remetem instantaneamente a estes crápulas do Rio de Janeiro que viraram notícia. Juntos formam uma quadrilha cuja diversão se resume a espancar covardemente mulheres, tal qual no filme. Muito me aflige imaginar quantas mais foram vítimas de uma atrocidade como essa! Seja prostituta, seja empregada doméstica, seja princesa ou rainha, nenhuma, repito, nenhuma mulher merece ser agredida de tal forma. Aliás, nenhum ser humano.

Diante disso, tal situação rende diversas reflexões, que vão desde a revisão do sistema punitivo vigente em nosso atual Direito Penal - bem como a correta aplicação da penalidade devida neste caso - às questões morais subjacentes a essa violência. O que leva um ser humano a agir desta forma?? Álcool? Drogas? Não observância de limites? Estes são meros catalisadores, impulsionadores, despertadores de um mal guardado em forma de afirmação pela subversão indevida. Me resta imaginar que pessoas capazes de cometer tal ato, o fizeram impulsionados pelo prazer de maltratar o outro, como numa espécie de exibição aos seus parceiros, num compartilhamento de atrocidade: uma diversão coletiva de animais, pobres em sentimentos fraternos, ricos em maldade disfarçada de rebeldia.

A falta de acompanhamento familiar, a educação deseducadora a que foram submetidos, a falta de rédeas e de estímulos aos verdadeiros prazeres de se viver uma juventude sadia foram amplamente apontados como possíveis explicações para o acontecido. Ademais, a impunidade gritante de nosso sistema penal estimularia tais atitudes, tendo em vista que seu caráter coercitivo se resume a alguns poucos anos de uma cárcere repleto de regalias e suficientemente passageiro. Como talvez fossem as punições a que tais jovens eram submetidos no âmbito familiar.

No meu modo de pensar, mais do que lutar por uma punição exemplar, mais do que transformar tais monstros em modelos de crápulas e alvos principais do ódio coletivo, devemos, sim, lutar contra o que torna um ser humano capaz de tal atrocidade. Falamos de jovens que agiram não-movidos por um impulso de vingança ou estavam guarnecidos de ódio pessoal pela vítima. Estes, por mais e ainda injustificados que sejam, são motivos. Os jovens da Barra da Tijuca agiram desmotivadamente. Atacaram a esmo, como um predador à sua presa; como prova de repúdio a um tipo de pessoa que consideram menor, e, assim sendo, digna de merecer castigos físicos. Nossa luta deve se focar no poder da educação, no modelo de família e sociedade que cultivamos. Que família de classe média alta é essa, que tipos de pais são esses, que geram cidadãos como esses?? Um dos pais de um dos criminosos no noticiário se perguntava:"Onde erramos?". E eu respondo a ele: erraram pela omissão, pelo descaso, pela covardia preguiçosa de pautar a educação de uma criança através do pronto atendimento de seus desejos, por meio do parabéns dado quando realizada uma mera obrigação, pela supervalorização do reconhecimento, pela gratificação do não-merecimento. Dou minha cara a tapa se todos os cinco brutamontes não foram educados dessa forma...Apostaria minha honra nisso... O erro desses pais foi justamente não saber ser pai e mãe. Foi ter simplesmente fracassado em sua função mais sagrada nessa vida!

Portanto, venho salientar repúdio a tal modelo de sociedade, já tão repleta de lutas de classes, de embates sociais, de pobreza , de tragédias... Alimentamos mais tragédias!! As famílias desses jovens são tambem vítimas de uma sociedade em guerra civil, mas são culpadas por formar tais cidadãos dignos de uma merecida reclusão social. O medo que nos encarcera em casa merece outras vacinas, sobre as quais não cabe refletir no momento, e não justifica tal forma de resposta, personificada na criação de pequenos grandes monstros espancadores. Incendiadores de índios, espancadores de homossesuais, de prostitutas, de qualquer ser tido como diferente ou marginal são bandidos formados no seio familiar, seco e fraco de alimentação devida. Divulguemos a falta de vigilância e de cuidado de muitos pais com a educação de seus filhos!! Mais do que oportunidades para o mercado de trabalho ou de conforto, pessoas em formação merecem oportunidades de ser gente! E gente não se comporta de tal maneira! Sigamos o exemplo do pai de Sirlei Pinto, que esbanja consciência e cultura do alto de sua simplicidade. Este senhor declarou com hombridade a raiz do problema, mostrando a todo o País que foi na educação de casa o erro dos pais desses que tanto mal fizeram a sua filha. Ajudemos estes pais, ajudemos estes filhos, ajudemo-nos. Falemos sobre o assunto, abramos seus olhos, iluminemos seus caminhos em busca do estímulo ao devido acompanhamento familar. "Eduque a criança e não será necessário castigar o Homem", disse Pitágoras. O Homem mostrou ao longo de sua história que, por mais educação que lhe seja proporcionada, ainda assim existem aqueles alheios à regra, que incidem na ilicitude social. Alguns seres humanos são mesmo violentos, donos de mau-caráter e capazes, sim, de cometer atrocidades. Mas espero um dia contar que tais atrocidades possam ser estimuladas por uma má-índole, por problemas psíquicos, por anormalidades funcionais... E não pela carência de educação familiar. Família esta rica em posses, porém carente no que mais lhe deveria caracterizar: a capacidade de formar dignos cidadãos.