segunda-feira, julho 02, 2007

Marginais em formação


É sabido de todos. Cinco marginais de classe média, moradores da Barra da Tijuca, roubaram e espancaram a empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, de 32 anos, enquanto esta aguardava o transporte coletivo, há mais ou menos uma semana. Os criminosos alegaram confundir a agredida com uma prostituta, justificando, dessa forma, a violência do ato cometido.

Ato indubitavelmente reprovável, justificativa risível e mesquinha. No mês passado escrevi sobre o filme "Baixio das Bestas", o qual versa sobre a exploração da mulher na realidade canavieira do interior pernambucano. Os jovens retratados naquele filme remetem instantaneamente a estes crápulas do Rio de Janeiro que viraram notícia. Juntos formam uma quadrilha cuja diversão se resume a espancar covardemente mulheres, tal qual no filme. Muito me aflige imaginar quantas mais foram vítimas de uma atrocidade como essa! Seja prostituta, seja empregada doméstica, seja princesa ou rainha, nenhuma, repito, nenhuma mulher merece ser agredida de tal forma. Aliás, nenhum ser humano.

Diante disso, tal situação rende diversas reflexões, que vão desde a revisão do sistema punitivo vigente em nosso atual Direito Penal - bem como a correta aplicação da penalidade devida neste caso - às questões morais subjacentes a essa violência. O que leva um ser humano a agir desta forma?? Álcool? Drogas? Não observância de limites? Estes são meros catalisadores, impulsionadores, despertadores de um mal guardado em forma de afirmação pela subversão indevida. Me resta imaginar que pessoas capazes de cometer tal ato, o fizeram impulsionados pelo prazer de maltratar o outro, como numa espécie de exibição aos seus parceiros, num compartilhamento de atrocidade: uma diversão coletiva de animais, pobres em sentimentos fraternos, ricos em maldade disfarçada de rebeldia.

A falta de acompanhamento familiar, a educação deseducadora a que foram submetidos, a falta de rédeas e de estímulos aos verdadeiros prazeres de se viver uma juventude sadia foram amplamente apontados como possíveis explicações para o acontecido. Ademais, a impunidade gritante de nosso sistema penal estimularia tais atitudes, tendo em vista que seu caráter coercitivo se resume a alguns poucos anos de uma cárcere repleto de regalias e suficientemente passageiro. Como talvez fossem as punições a que tais jovens eram submetidos no âmbito familiar.

No meu modo de pensar, mais do que lutar por uma punição exemplar, mais do que transformar tais monstros em modelos de crápulas e alvos principais do ódio coletivo, devemos, sim, lutar contra o que torna um ser humano capaz de tal atrocidade. Falamos de jovens que agiram não-movidos por um impulso de vingança ou estavam guarnecidos de ódio pessoal pela vítima. Estes, por mais e ainda injustificados que sejam, são motivos. Os jovens da Barra da Tijuca agiram desmotivadamente. Atacaram a esmo, como um predador à sua presa; como prova de repúdio a um tipo de pessoa que consideram menor, e, assim sendo, digna de merecer castigos físicos. Nossa luta deve se focar no poder da educação, no modelo de família e sociedade que cultivamos. Que família de classe média alta é essa, que tipos de pais são esses, que geram cidadãos como esses?? Um dos pais de um dos criminosos no noticiário se perguntava:"Onde erramos?". E eu respondo a ele: erraram pela omissão, pelo descaso, pela covardia preguiçosa de pautar a educação de uma criança através do pronto atendimento de seus desejos, por meio do parabéns dado quando realizada uma mera obrigação, pela supervalorização do reconhecimento, pela gratificação do não-merecimento. Dou minha cara a tapa se todos os cinco brutamontes não foram educados dessa forma...Apostaria minha honra nisso... O erro desses pais foi justamente não saber ser pai e mãe. Foi ter simplesmente fracassado em sua função mais sagrada nessa vida!

Portanto, venho salientar repúdio a tal modelo de sociedade, já tão repleta de lutas de classes, de embates sociais, de pobreza , de tragédias... Alimentamos mais tragédias!! As famílias desses jovens são tambem vítimas de uma sociedade em guerra civil, mas são culpadas por formar tais cidadãos dignos de uma merecida reclusão social. O medo que nos encarcera em casa merece outras vacinas, sobre as quais não cabe refletir no momento, e não justifica tal forma de resposta, personificada na criação de pequenos grandes monstros espancadores. Incendiadores de índios, espancadores de homossesuais, de prostitutas, de qualquer ser tido como diferente ou marginal são bandidos formados no seio familiar, seco e fraco de alimentação devida. Divulguemos a falta de vigilância e de cuidado de muitos pais com a educação de seus filhos!! Mais do que oportunidades para o mercado de trabalho ou de conforto, pessoas em formação merecem oportunidades de ser gente! E gente não se comporta de tal maneira! Sigamos o exemplo do pai de Sirlei Pinto, que esbanja consciência e cultura do alto de sua simplicidade. Este senhor declarou com hombridade a raiz do problema, mostrando a todo o País que foi na educação de casa o erro dos pais desses que tanto mal fizeram a sua filha. Ajudemos estes pais, ajudemos estes filhos, ajudemo-nos. Falemos sobre o assunto, abramos seus olhos, iluminemos seus caminhos em busca do estímulo ao devido acompanhamento familar. "Eduque a criança e não será necessário castigar o Homem", disse Pitágoras. O Homem mostrou ao longo de sua história que, por mais educação que lhe seja proporcionada, ainda assim existem aqueles alheios à regra, que incidem na ilicitude social. Alguns seres humanos são mesmo violentos, donos de mau-caráter e capazes, sim, de cometer atrocidades. Mas espero um dia contar que tais atrocidades possam ser estimuladas por uma má-índole, por problemas psíquicos, por anormalidades funcionais... E não pela carência de educação familiar. Família esta rica em posses, porém carente no que mais lhe deveria caracterizar: a capacidade de formar dignos cidadãos.



2 comentários:

Anônimo disse...

ai ai.. me sinto tão pequeneninha qnd eu vejo a grandeza das tuas palavras hehe, eita homi pra saber escrever, uhauahau saber escrever pra mim é ter dom em organizar ideias e isso tu faz bem hein?
Assino em baixo em tudo que tu falou!.. acho que o grande problema, é a falta de consciencia desses pais de que a educação é primordial e que ela contribui em grande parte para a personalidade de um ser-humano.. acho que muitos pais ainda não tiveram consciencia disso! Talvez até tenham, e talvez não estejam nem ai.. mas que é certo que tudo isso foi falta de uma boa educação... é sabido. e mais.. lamentável!

continue contribuindo para nossa formação intelectual higgo, os desprovidos de dom agradecem uehuheuhueheu
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Anônimo disse...

Sabe quando começou esta bagunça? Há muuuito tempo, quando alguém inventou uma tal de PROPRIEDADE PRIVADA e disse: “Isto, isso e aquilo são meus”! Aí começaram a temer pelo que é “seu” e a achar que o diferente é errado... Acho que eles têm medo do diverso, temem que este os domine e prove ser melhor. É assim que surgem guerras e diversos tipos de preconceitos... É triste a realidade! Meu novo texto fala mais ou menos disso, depois dá uma olhadinha! Falando em texto... Este está fantástico! PARABÉNS!
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