sexta-feira, dezembro 15, 2006

O tom da moça


Durante sua curta vida, a moça cultivara um coração fácil de gostar, relutante em se apaixonar e impedido de amar. Era capaz de amar família, bichos, flores, nuvens e a espuma do mar, mas nunca nenhum rapaz a fizera experimentar o amor. Alguns esboços de amor por sua vida até que passaram, mas nenhum delez fez brotar algo que não fossem meros ensaios de amar.
Eis que numa dessas curvas que a vida insiste em nos levar, um moço apareceu, violão nos braços e jeito engraçado de existir. E encantou a moça, como numa canção sem métrica, nem rimas, mas melódica e suficientemente marcante. Tal foi o encantamento, que a moça deixou-se carregar pelas notas das canções que o moço entoava. Métricas de questionamentos formavam-se a cada tom, porém, absorta nos conselhos que seu coração dava, entregou-se àqueles versos, corajosa e desconfiadamente.
Nos primeiros acordes, o coração da moça amaciou-se, como o tecido da colcha mais confortável que usava para dormir. Nos seus sonhos, interrogações sobre o quanto seu coração suportaria de amor. Nos pensamentos, questões acerca de quando sua racionalidade afrouxaria as rédeas que mantinha sobre seus sentimentos.
As estrofes seguintes apresentaram-na a um moço doce à sua maneira, cujas atitudes mal-compreendiam-se nas precipitações da pouca idade. A moça recebia estes versos com apreensão, desejosa de que as redondilhas que ouvia seguissem num ritmo mais lento do que se acostumara a ouvir.
Não obstante, veio o refrão. E com o apressado compasso, o ensaio de amor que o coração da moça disfarçava não mais encontrava máscaras em que se refugiar. Enquanto o moço diluía-se em esforços, surpresas, desejos, agrados, e afinações em forma de presentes e demonstrações de carinho, a moça, angustiada, nada tinha a dar em retorno, nada...Nem mesmo o gostar.
Certa das dúvidas que o refrão dessa canção provocara em sua tentativa de amar, aos poucos a moça foi tentando diminuir o volume daquelas notas. À medida que o moço se preparava para evoluir em seu ritmo frenético de conquista, mais a moça retraía-se nas resistências aos seus ataques de amor.
Até que, cansada de escutar silêncio na evolução daquela melodia, a moça educadamente interrompeu a serenata, despedindo-se do moço, transmitindo um carinhoso olhar de adeus. E pôs-se a caminhar, à espera daquele que transformaria seus desejos em singelas canções de ninar. Quem sabe, em busca de alguém que conseguisse captar seu verdadeiro tom.

4 comentários:

Anônimo disse...

me identifiquei com esse!
hehehe
lindooo!
=D

Anônimo disse...

PERFEITO!!!!!! PERFEITO!!!! PERFEITO!!!! PERFEITO!!! PERFEITO!!! PERFEITO!!!! E agora?! Vai escrever outra para contar que ela achou o menino da canção de ninar?! :) hehehehe TE AMOOOOOO

Anônimo disse...

=*

Anônimo disse...

AMU TU,TATU!!