quinta-feira, janeiro 12, 2006

Reticências...


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Não demora muito e aparecem reticências em nossas vidas...Frases não-ditas...Subentendidas...Momentos para lembrar...Para esquecer...Saudades...Projeções...Desejos não atingidos...Não-satisfeitos...Promessas não cumpridas...Promessas desfeitas...
E com isso, crescemos...Aprendemos com as reticências e com o silêncio que elas representam...Vazias?... Erro crasso... Elas são infinitas... Preenchidas por tudo o que quisermos...Elas são completas pela sugestão...Imensa responsabilidade a de preenchê-las...Responsabilidade nossa...Reticências são por excelência nosso mais lacunoso recurso...Representam o que quisermos que elas representem...Traduzem a ignorância e a sapiência...A tristeza e a alegria...O momento e a espera...A vitória e a derrota...O erro e o acerto...A surpresa e a antecipação...O início e o fim...Significam opostos...Daí a necessidade de saber usá-las...Este instrumento poderoso de quem quer se fazer entender ou confundir...Reticências são fins inacabados...Esperanças de uma continuidade ou a certeza de algo incerto...Pistas...O caminho para as pistas...A vontade e o desprezo...Respostas sem perguntas...Perguntas sem respostas...São qualquer coisa ou quase nada...São o que buscamos e do que fugimos...São a saída e a prisão...São a clareza e a vagueza...São o simples e o complexo...São o meu e o seu...São o que não quero e o que desprezo...São palavras e a falta delas...Dizem tudo e se calam...São precisas e aleatórias...Riem e choram...São obscuras e diretas...São objetivas e metafóricas...São transparentes e opacas...São místicas e racionais...Introduzem e concluem...Produzem e estatizam...Plantam e devastam...Perturbam e acalmam...Conquistam e decepcionam...Esperam e se fazem esperar...Agilizam e demoram...Significados sem significância...
Meu medo e minha coragem são reticentes...Todos somos reticentes...Até que morremos e elas acabam...Acabam-se a criatividade e a arte criadora... Até que ele, sondando, repentinamente se faz perceber...Ele vem e as leva, as afasta, as apaga...E as rouba para sempre, finalizando sua grandeza...Arrasta tudo...Mas não descarta as saudades...Vem como um furacão solitário e destruidor...Vem e se faz logo notar...Devastador...Misterioso...Melancólico...Vem e decepciona nossa imaginação...Não sugere e não produz...Ele nos elimina e não recomeça...Fria e calculadamente ele se aproxima...E, assim, aparece, uno e pobre e pequeno e poderoso ponto.
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Texto mais antigo, alguns já conhecem, mas não podia deixar de constar aqui. Meu ponto ainda não chegou, portanto tenho que aproveitar as reticências, não??

2 comentários:

Anônimo disse...

ja tinah lido esse!!
=D
modificasse algumas coisas num foi?
é um dos melhores que tu ja escrevesse!!
adoro esse texto!!
e aindabem que tu não encontrasse o ponto ne?!

te amo
bjos

Anônimo disse...

adorei essa foto!
;)